Moção de Repúdio - Grupo Dakila Pesquisas

Diretoria
22.12.2023

Moção de Repúdio da Assembleia Geral da Sociedade de Arqueologia Brasileira (SAB) quanto a atuação do grupo Dakila Pesquisas 
A Assembleia Geral da Sociedade de Arqueologia Brasileira (SAB), reunida ordinariamente durante o XXII Congresso da SAB, na cidade de Florianópolis, Estado de Santa Catarina, manifesta através do presente documento seu repúdio à desinformação de má fé, que distorce o conhecimento arqueológico, por uma iniciativa suspeita associada a uma suposta cidade – que seria a primeira do mundo com “milhões de anos” – chamada “Ratanabá,” localizada no interior da Terra Indígena Kayabi, norte do estado do Mato Grosso, no município de Apiacás. A partir do uso de imagens de satélite de formações geológicas localizadas nessa área, este grupo começou a circular nas redes sociais narrativas fantasiosas sobre uma suposta “existência de grandes civilizações perdidas e grandes verdades a serem reveladas” que visam benefício para quem as difunde, e engajamento em suas redes. Vale ainda lembrar que essa iniciativa circulou de forma exponencial justamente quando foi revelado o desaparecimento do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips no Vale do Javari, como forma de desviar buscas online relacionadas a termos como “Amazônia”. Infelizmente, essas fake news, em princípio risíveis e facilmente rebatidas com argumentos científicos básicos, têm tomado proporções preocupantes, porque deslegitimam a ocupação histórica e tradicional dos territórios de povos indígenas e tradicionais, quando diz que tais “cidades” teriam centenas de milhares de anos, revelando um viés racista que relaciona a (neste caso, falsa) monumentalidade na Amazônia a ocupações não-indígenas ou até de seres fantásticos. Após disseminar essas inverdades, esses pseudo pesquisadores buscam alicerçar suas narrativas em eventos científicos e no órgão estatal que cuida do patrimônio arqueológico, usando assim a abertura democrática da produção de ciência de forma distorcida para legitimar suas fake news. Foi assim no 14 SINAGEO (Simpósio Nacional de Geomorfologia), quando apresentou resumos que falavam apenas de uso de LIDAR para identificação de feições geológicas na região amazônica, enquanto nas apresentações citaram a existência de “grandes verdades que serão reveladas” e a ocupação do território brasileiros por seres gigantes há milhões de anos. No mesmo período, em suas redes sociais afirmavam que “nosso artigo foi aprovado e reconhecido cientificamente”, sendo esta uma deturpação do que é um evento científico. Em suas redes ainda são percebidos laços com atividades turísticas, o que causa perplexidade em se tratando de uma terra indígena onde não houve consulta livre, prévia e informada conforme estipula a legislação vigente. Nesse momento, este grupo obscuro busca respaldo junto aos povos indígenas e ao IPHAN, com discurso desvirtuado, alegando que o trabalho trata de “fortalecimento da identidade cultural indígena com base na proteção e conservação do patrimônio arqueológico.” Nas redes sociais, associam a área de “pesquisa” à “Ratanabá”, o que está em desacordo com a proposta do projeto que foi protocolado sob o número do processo 01450.005350/2023-21. Além de ser ofensiva, tal proposta é potencialmente perigosa para os povos indígenas e tradicionais que vivem nessa região. Dessa forma a Assembleia Geral Ordinária da Sociedade de Arqueologia Brasileira repudia as iniciativas ligadas ao grupo Dakila Pesquisas, e pede atenção dos órgãos responsáveis com esta fraude. Solicita-se que retirem do ar suas redes que difundem mentiras e que revisem a autorização de qualquer “pesquisa” protocolada em órgãos de estado associadas às fraudes identificadas. Especificamente, solicitamos ao IPHAN que arquive a análise de tal processo que viola princípios éticos básicos.

Florianópolis, 15 de novembro de 2023.